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Construção de uma Memória Histórica

    Introdução

    Foi no ano de 2013, durante a programação das celebrações do 90º aniversário do Café Santa Cruz, que foi pensada uma iniciativa cujo objectivo era a criação de um “recordatório” fotográfico dos últimos 90 anos do Café Santa Cruz. 

    Nessa altura, apelámos à preciosa colaboração de todos os clientes e amigos para nos disponibilizarem os registos fotográficos que pudessem ter sobre o Café e que testemunhassem momentos especiais que aqui tivessem acontecido. 

    Porém, começaram a surgir, em simultâneo, informações de notícias que apareceram nos jornais do princípio da década de 20 do século XX (1921/1922/1923), que nos permitem hoje compreender o pensamento e as diversas opiniões, referentes às alterações de reabilitação e de adaptação que iam ocorrendo no edifício da antiga Igreja de S. João de Santa Cruz que se ia transformando no Café-Restaurante Santa Cruz.

    Nestas notícias obtivemos igualmente muita informação sobre a utilização do edifício após a sua dessacralização, quem colaborou na reabilitação do edifício, os eventos que ocorreram antes da inauguração, como decorreu a inauguração, quem esteve presente e quais os seus discursos, o serviço prestado, …

    Mas, este processo de recolha de informações foi demorado ….

    Com as fotografias e as notícias, entretanto recolhidas, inaugurámos no dia 29 Abril de 2015 a exposição “Encontro de Memórias do Café Santa Cruz”, que integrou a programação da XVII Semana Cultural da Universidade de Coimbra, cujo tema era “Tempo de Encontros”. Nesse dia, decorreu também uma tertúlia com o tema: “As transformações urbanísticas no eixo Portagem / Praça 8 de Maio”.

    Com o Museu Temporário de Memórias (MTM), produzido no âmbito dos Sons da Cidade do ano de 2016, foram descobertos, na Sociedade de Fazendas, documentos preciosos do Café Santa Cruz.

    Após a recolha de toda esta informação foi editado o livro “Encontro de Memórias do Café Santa Cruz”, apresentado no dia 8 de Maio de 2017. 

    Aqui estão retratadas diversas fotografias da Praça 8 de Maio onde constam a Igreja de Santa Cruz e o Café Santa Cruz. Contém ainda imagens das plantas, dos objectos, dos equipamentos, das notícias e de diversos documentos entretanto reunidos, relacionados com o Café-Restaurante Santa Cruz. A estes, juntam-se um marco (datado de 1620?) que delimitava os terrenos do Mosteiro de Santa Cruz e as obras inéditas criadas especificamente para a exposição de 2015.

    Neste longo caminho de registo de memórias destacamos a criação do Livro de Honra. O primeiro registo data de 18 de Janeiro de 2011, do então candidato à Presidência da República, Professor Aníbal Cavaco Silva.

    Nestes últimos anos têm sido muitas as pessoas que deixam registadas as suas memórias, as suas histórias, as suas opiniões no Livro de Honra. Estes nossos ilustres visitantes estão ligados às mais diversas funções / profissões do nosso quotidiano. Temos registos de:

    – Presidentes da República, e candidatos; – Primeiros Ministros, e candidatos; – Ministros; Eurodeputados, e candidatos; – Políticos;

    – Directores Gerais de organismos públicos; – Militares; – Escritores, actores, pintores, fotógrafos, escultores e artistas plásticos; – Mágicos, humoristas, músicos, poetas e professores; – Apresentadores de televisão, locutores da rádio e jornalistas; – Atletas, árbitros, treinadores e dirigentes desportivos; – Editores;

    – Sacerdotes; – Empresários; – Médicos, Economistas, Advogados e Cientistas;

    O que pretendemos fazer

    Podemos partir da definição da memória (individual ou colectiva) como um conjunto de vivências, de momentos e de experiências, construídas ao longo dos tempos, resultantes das relações com os lugares e com as pessoas.

    Esta memória pode ser constituída pelos símbolos, pelos objectos, pelas histórias, pelas experiências, pelo saber fazer, pelos costumes, pelas tradições ou pelas imagens. Estes elementos tanto participam na construção identitária de uma pessoa, de uma comunidade, de uma cidade, de uma região ou de um país.

    A partilha destas memórias é o garante de pertença a um grupo, a uma geração com um passado comum, que resulta num sentimento de pertença ao lugar ou numa relação de proximidade com as pessoas.

    À semelhança do que aconteceu em 2013, as celebrações do Centenário do Café Santa Cruz são uma excelente oportunidade para fazermos o levantamento, a recolha e o registo por escrito de mais histórias que aconteceram no Café Santa Cruz.

    Desejamos passar para o papel as histórias, os momentos, as memórias, as experiências, as vivências que os nossos clientes têm, nos últimos anos, partilhado connosco oralmente, mas que nunca foram inventariadas.

    A recolha do património material (fotografias, objectos, plantas, diversos documentos, notícias, …) conjugado com a recolha deste património imaterial enriquecem a história do Café Santa Cruz. 

    A memória é preservada quando partilhamos as nossas histórias, as nossas experiências, as nossas vivências, as nossas lembranças, constituindo (construindo) um importante legado a ser perpetuado para as gerações futuras.

    Coimbra, 15 de Fevereiro de 2023.

    Nota final

    A recolha destas histórias (memórias) vai permitir:

    – compreender a história 

    o passado dos lugares, como foram idealizados, pensados, edificados e construídos

    como chegou este conhecimento até aos dias de hoje

    – lembrar, narrar e escrever as histórias passadas

    são as pessoas, através das suas memórias, das suas experiências, que transmitem o carisma do lugar ao longo de sucessivas gerações, tornando estas memórias intemporais

    contribuir para enraizar laços afectivos com a comunidade por forma a fortalecer um sentido de pertença ao Café

    – recordar e homenagear todas aquelas pessoas (gerentes, colaboradores, fornecedores, clientes, amigos) que contribuíram para a história do Café Santa Cruz, preservando-os na nossa memória

    – destacar, realçar, (re)construir uma memória histórica sólida, consistente, como elemento diferenciador, de distinção e de notoriedade

    – identificar o contributo dos Cafés Históricos no contexto do património imaterial

    Nota: este texto deve ser complementado com outros preparados para:

    1. o Museu do Turismo;
    2.  a exposição dos guias / garrafas / menus;
    3. a exposição das notícias (1861-1924).