No âmbito da programação “Um Café a Caminho do Centenário”, que decorre de Maio de 2022 a Maio de 2023, foram planeadas um conjunto de iniciativas cujo objectivo é dar a conhecer a longa história do Café Santa Cruz.
A realização do seminário Cafés Históricos: um Encontro de Ideias, que aconteceu no Café Santa Cruz, em Maio de 2022, foi um desses momentos. Para além das intervenções dos oradores e dos moderadores nos temas previamente definidos, havia um conjunto de actividades paralelas. Uma delas foi uma exposição (que se prolongou até Junho) de 10 aguarelas que retratam 10 Cafés Históricos de Portugal, tendo como elemento comum a sua beleza arquitectónica exterior. Assim, estavam representados: o Café Majestic (Porto); A Brasileira (Braga); o Café Santa Cruz (Coimbra); o Café Paraíso (Tomar); o Café Águias d´Ouro (Estremoz); o Café Nicola (Lisboa); A Brasileira (Lisboa); o Café Aliança (Faro); o Café Calcinha (Loulé) e o Peter Café Sport (Horta).
Esta é a ocasião para abordámos o tema dos Cafés Históricos de Portugal.
Um Café é um espaço acolhedor (não só pelo seu mobiliário, mas também pela sua arquitectura e pela sua decoração), caracterizado por um serviço cuidado, simpático, acolhedor e atencioso ao cliente. Muitos dos Cafés de hoje, sejam eles históricos ou não, são locais de encontros, são espaços democráticos, são lugares de sociabilidade, de frequência pública, de discussão e de debate de ideias.
São locais que deverão ter uma forte ligação à comunidade local, aos seus cidadãos, devendo ocupar, preferencialmente, um local central (cultural, comercial e social) na vida pública da sua cidade. Os Cafés (Históricos) devem integrar os seus visitantes (turistas / clientes) no seu quotidiano, na sua vida diária, para que não se torne apenas num estabelecimento onde os turistas convivem com turistas.
Muitos dos episódios e/ou momentos da nossa vida também passam pelos Cafés:
– São locais onde paramos para uma leitura dos jornais, para a consulta dos mails e das redes sociais;
– São um local / um ponto de encontro para a celebração da felicidade e da amizade;
– São muitas vezes o nosso escritório temporário quando agendamos reuniões fora do nosso local de trabalho;
– São espaços de debate quer de tertúlias públicas quer em conversas mais restritas;
– São um espaço de reflexão individual;
– São locais de inspiração para artistas de todas as vertentes culturais;
– São locais onde apresentamos os nossos ideais, as nossas opiniões (através de tertúlias, conferências, livros, …) ou os nossos trabalhos artísticos (pintura, fotografia, escultura, …);
– São lugares onde, muitas vezes, testemunhamos os dramas sociais e humanos que existem na nossa sociedade;
– São lugares aos quais retomamos porque já lá estivemos, pelos mais diversos motivos, com os nossos avós, com os nossos pais.
Ou, talvez o mais importante, é o local onde paramos simplesmente para beber um café.
Mas, quando as ideias não eram partilhadas na internet, nas redes sociais, eram pensadas, reflectidas, debatidas e tantas vezes até passadas para o papel, à mesa dos Cafés.
Na construção da Rota dos Cafés com História de Portugal fomos identificando alguns critérios que pensamos serem fundamentais para distinção de um Café Histórico:
a) deve estar aberto ao público;
b) tem que ter pelo menos 50 anos de actividade comercial;
c) deve ser analisado como estes espaços são revitalizados e dinamizados ao longo dos tempos, acompanhando, por exemplo, a sua evolução através das redes sociais;
d) deve ter significado histórico e cultural, deve ser uma referência para a sua cidade e deve estar presente na memória colectiva dos cidadãos
d1) analisar (avaliar) a ligação à comunidade local, aos seus cidadãos e à sua cidade
d2) analisar (avaliar) o grau de notoriedade e visibilidade em diversos domínios (no serviço, na história e nas tradições, na cultura, na arte, na arquitectura, na decoração) e qual o grau de reconhecimento local, regional e nacional;
e) analisar quem frequentava o Café, qual era o público alvo, quais as classes sociais, onde se sentavam, com quem conviviam, porque é que se encontravam, …
é importante analisar a tipologia de clientes: turistas, comerciantes, empresários, executivos, funcionários públicos, agricultores, latifundiários, professores ou profissionais liberais, estudantes, empregados do comércio, da agricultura ou da indústria, …
f) quais os valores artísticos (pintura, literatura, escultura, …) e culturais transmitidos por quem frequentava estes estabelecimentos;
g) as intervenções (de reabilitação, de conservação ou de manutenção) devem, na medida do possível, manter e / ou recuperar a traça antiga do edifício quer no interior quer no exterior;
h) a decoração e o mobiliário, não sendo idênticos, devem ser inspirados no que existia (por exemplo, estas informações poderão ser retiradas de fotografias antigas);
i) deve manter-se em razoável estado de conservação e de manutenção, quer no interior quer no exterior.
Há um conjunto de palavras chave que permitem identificar e reconhecer um Café Histórico: 1) a arquitectura, o mobiliário e a decoração; 2) a história, a tradição, a autenticidade e o carisma; 3) as vivências e as memórias; 4) a longevidade e a resiliência; 5) como estabelecimento comercial único, distinto; 6) a familiaridade e a hospitalidade, com ligação à comunidade local; 7) um espaço de tertúlias, de debates de ideias e um espaço de cultura; 8) uma marca identitária da cidade, uma marca da sua memória social; 9) o grau de notoriedade e visibilidade a nível local, regional ou nacional.
São os momentos que passamos nestes Cafés que perduram no tempo e que vão traduzir a qualidade e a riqueza da nossa memória.
A longevidade dos Cafés Históricos, a sua história, tradição e carisma, as suas vivências e as suas memórias, a sua autenticidade e genuinidade, bem como o seu património (material e imaterial) permite-nos pesquisar, investigar e estudar diversos temas associados à sua actividade. São disso exemplo:
– o contributo para o turismo (por exemplo: o Café Majestic e A Brasileira do Chiado aparecem frequentemente no ranking dos Cafés mais bonitos do Mundo);
– o contributo para o património gastronómico nacional (por exemplo: Os Pastéis de Belém ou os covilhetes de Vila Real (Pastelaria Gomes);
– a sua presença em cidades património da humanidade (por exemplo: Évora, Angra do Heroísmo, Tomar);
– os artistas que os frequentaram (por exemplo: Fernando Pessoa no Martinho da Arcada, Júlio Resende no Majestic ou Cruzeiro Seixas no S. Gonçalo de Amarante);
– os arquitectos que construíram estes estabelecimentos (por exemplo: Cassino Branco ou Joaquim Manuel Norte Júnior).
Um dos grandes objectivos da Associação dos Cafés com História de Portugal é a integração destes Cafés em circuitos turisticos regionais, nacionais e internacionais. A certificação da Rota Cultural Europeia dos Cafés Históricos, supervisionada pelo Conselho da Europa, pode contribuir para captar novos clientes e fomentar (reforçar) o turismo, numa vertente cultural, integrada numa rede de 48 Rotas Culturais Europeias, onde se incluem os Cafés Históricos.
Neste sector podemos considerar que existe uma oferta diferenciada, de produtos distintos, como por exemplo: o Turismo Literário, o Turismo de Arquitectura e o Turismo Gastronómico, direccionados para segmentos mais exigentes. Os Cafés Históricos podem reforçar o portfolio dos produtos turísticos nacionais e, desta forma, contribuir também para o crescimento sustentado do sector.
Estes Cafés são também uma herança que queremos preservar para o futuro, acrescentando valor ao legado dos seus antecessores. Os Cafés Históricos são um marco da identidade (histórica, económica, social, cultural e patrimonial) das suas cidades e fazem parte do seu património material e imaterial. Os Cafés Históricos continuam vivos, dinâmicos, criativos, inovadores e vão deixar um legado histórico, patrimonial e cultural para as próximas gerações.
Coimbra, 15 de Maio de 2022
Alguns momentos importantes associados aos Cafés Históricos:
a. Apresentação da Rota dos Cafés com História de Portugal (2014)
https://www.noticiasmagazine.pt/2014/cafes-com-historia/receitas/7406/
b. Apresentação do livro da Rota dos Cafés com História de Portugal (2016)
c. Prémios APOM 2017
d. Cafés Portugueses: Tertúlia e Tradição (CTT – 2017)
https://www.ctt.pt/femce/sku.jspx?shopCode=LOJV&itemCode=20173719599
https://www.ctt.pt/femce/category.jspx?shopCode=LOJV&categoryCode=8298&showAll=1
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.1766303996766659.1073744077.299654046765002&type=3
e. Conferência Cafés Históricos como Património Cultural (Coimbra) 2018
https://www.evasoes.pt/noticias/coimbra-rota-cafes-historicos-europeus-debate/352051/
https://bibliografia.bnportugal.gov.pt/bnp/bnp.exe/registo?2058069
f. Vencedor da categoria Transnational Thematic Tourism Products da European Cultural Tourism Network (2020)
https://www.culturaltourism-network.eu/results-2020.html
g. Apresentação no The Best in Heritage (2021)
https://presentations.thebestinheritage.com/2021/historic-cafes-in-the-iberian-peninsula
página 110 a 113
h. Seminário Cafés Históricos: Um Encontro de Ideias (Coimbra) 2022
https://www.facebook.com/cafesantacruzcoimbra/videos/690816375559547
https://www.facebook.com/cafesantacruzcoimbra/videos/2920307424930498https://www.facebook.com/cafesantacruzcoimbra/videos/507323281142863https://www.facebook.com/cafesantacruzcoimbra/videos/696032301498103https://www.facebook.com/cafesantacruzcoimbra/videos/1183741645718186
i. Apresentação do Dia Nacional do Café Histórico (2022)
https://www.rtp.pt/play/p9677/e613543/portugal-em-direto/1035548 (a partir do minuto 3)
j. Certificação da Historic Cafés Cultural Route of the Council of Europe (2022)
https://www.coe.int/en/web/cultural-routes
https://www.coe.int/en/web/cultural-routes/historic-cafes-route